sexta-feira, 16 de novembro de 2007

"Dispunham de tão escassos e preciosos momentos juntos, que a ela lhe parecia uma insensatez desperdiçá-los a filosofar; se de falar se tratava, prefera saber os seus gostos, o seu passado, ouvi-lo falar da mãe e dos planos para um dia se casar com ela. Teria dado qualquer coisa para ele lhe dizer cara a cara as frases magníficas que lhe escreva nas suas cartas. Dizer-lhe, por exemplo, que seria mais fácil medir as intenções do vento ou a paciência das ondas na praia, do que a intensidade do seu amor; que não havia noite de Inverno capaz de arrefecer a fogueira inextinguível da sua paixão; que passava o dia a sonhar e as noites acordado, atormentado sem tréguas pela loucura das lembranças e contando, com a angústia de um condenado, as horas que faltavam para a abraçar outra vez; «és o meu anjo e a minha perdição, na tua presença atinjo o êxtase divino e na tua ausência desco ao inferno; em que consiste este domínio que exerces sobre mim Eliza? Não me fales de amanhã nem de ontem, vivo só para este instante de hoje em que volto a mergulhar na noite infinita dos teus olhos escuros.»"


ALLENDE, Isabel; Filha da fortuna


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